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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X O PENSAMENTO FEMINISTA NA ESCOLA DE ENFERMAGEM DA UFBA Ana Cleide da Silva Dias 1 Silvia Lucia Ferreira 2 Ueigla Batista da Silva³ Resumo: O pensamento feminista na academia trouxe como consequência o surgimento das “feministas acadêmicas” com questionamentos sobre a posição da mulher na sociedade, sendo composto por professoras universitárias, pesquisadoras, em grande maioria, feministas, que se agregam em grupos de estudos sobre mulheres e relações de gênero, fortalecendo os movimentos feministas. Assim foi criado na escola de Enfermagem da UFBA, um Grupo de Estudo Sobre a Saúde da Mulher (GEM) com o intuito de desenvolver pesquisas nessas áreas. A pesquisa objetiva analisar a influência do pensamento feminista na produção científica na escola de Enfermagem nas teses no período de 2006 à 2016 e dissertações de 1991 à 2017. Para tal, foi realizada uma pesquisa exploratória de abordagem quanti-qualitativa e coleta de dados na base da Plataforma Lattes. Resultado: das 19 teses e 103 dissertações analisadas, apontaram inicialmente uma produção tímida, com o passar dos anos aumentou esse quantitativo, demonstrando o engajamento das professoras para a promoção do feminismo acadêmico. A importância da presença da academia para a construção de pensamento reflexivo sobre gênero e na formação das discentes principalmente em cursos majoritariamente feminino, pode indicar maior fortalecimento do GEM como grupo de estudo da escola. Palavras-chave: Feminismo. Gênero. Enfermagem. Estudos que envolvem a mulher no Brasil foram iniciados na década de 60 com objetivo principal compreender as transformações sociais principalmente no mundo do trabalho e de como se dava a inserção das mesmas em um contexto até então dominado pelo masculino. Entretanto é a partir da Década da Mulher instituído pela ONU em 1975 que este tema ganhou mais força e estimulou o surgimento de diversos grupos de mulheres incluindo as feministas na academia com o desenvolvimento de pesquisas envolvendo a divisão sexual do trabalho, discriminações sociais entre sexos e o papel tradicional da mulher na sociedade e na família (COSTA; SARDENBERG, 2014). As reflexões sobre gênero possibilitaram o deslocamento da dicotomia masculino e feminino apresentada apenas como uma questão biológica e natural para entender como se dão as relações tendo por base o sexo. Trouxe luzes para o entendimento da subordinação das mulheres e o entrelaçamento de aspectos culturais, econômico, étnico e sociais. 1 Doutoranda em Gênero, Mulher e Saúde pelo Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia -EEUFBA, Salvador, Brasil. 2 Professora Doutora, da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia - EEUFBA, Salvador - BA, Brasil. ³ Mestrando em Gênero, Mulher e Saúde pelo Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia -EEUFBA, Salvador, Brasil.

O PENSAMENTO FEMINISTA NA ESCOLA DE ENFERMAGEM … · 5 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN

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Seminrio Internacional Fazendo Gnero 11 & 13th Womens Worlds Congress (Anais Eletrnicos),

Florianpolis, 2017, ISSN 2179-510X

O PENSAMENTO FEMINISTA NA ESCOLA DE ENFERMAGEM DA UFBA

Ana Cleide da Silva Dias1

Silvia Lucia Ferreira2

Ueigla Batista da Silva

Resumo: O pensamento feminista na academia trouxe como consequncia o surgimento das

feministas acadmicas com questionamentos sobre a posio da mulher na sociedade, sendo

composto por professoras universitrias, pesquisadoras, em grande maioria, feministas, que se

agregam em grupos de estudos sobre mulheres e relaes de gnero, fortalecendo os movimentos

feministas. Assim foi criado na escola de Enfermagem da UFBA, um Grupo de Estudo Sobre a

Sade da Mulher (GEM) com o intuito de desenvolver pesquisas nessas reas. A pesquisa objetiva

analisar a influncia do pensamento feminista na produo cientfica na escola de Enfermagem nas

teses no perodo de 2006 2016 e dissertaes de 1991 2017. Para tal, foi realizada uma pesquisa

exploratria de abordagem quanti-qualitativa e coleta de dados na base da Plataforma Lattes.

Resultado: das 19 teses e 103 dissertaes analisadas, apontaram inicialmente uma produo tmida,

com o passar dos anos aumentou esse quantitativo, demonstrando o engajamento das professoras

para a promoo do feminismo acadmico. A importncia da presena da academia para a

construo de pensamento reflexivo sobre gnero e na formao das discentes principalmente em

cursos majoritariamente feminino, pode indicar maior fortalecimento do GEM como grupo de

estudo da escola.

Palavras-chave: Feminismo. Gnero. Enfermagem.

Estudos que envolvem a mulher no Brasil foram iniciados na dcada de 60 com objetivo

principal compreender as transformaes sociais principalmente no mundo do trabalho e de como

se dava a insero das mesmas em um contexto at ento dominado pelo masculino. Entretanto a

partir da Dcada da Mulher institudo pela ONU em 1975 que este tema ganhou mais fora e

estimulou o surgimento de diversos grupos de mulheres incluindo as feministas na academia com o

desenvolvimento de pesquisas envolvendo a diviso sexual do trabalho, discriminaes sociais entre

sexos e o papel tradicional da mulher na sociedade e na famlia (COSTA; SARDENBERG, 2014).

As reflexes sobre gnero possibilitaram o deslocamento da dicotomia masculino e feminino

apresentada apenas como uma questo biolgica e natural para entender como se do as relaes

tendo por base o sexo. Trouxe luzes para o entendimento da subordinao das mulheres e o

entrelaamento de aspectos culturais, econmico, tnico e sociais.

1 Doutoranda em Gnero, Mulher e Sade pelo Programa de Ps-Graduao da Escola de Enfermagem da Universidade

Federal da Bahia -EEUFBA, Salvador, Brasil. 2 Professora Doutora, da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia - EEUFBA, Salvador - BA, Brasil.

Mestrando em Gnero, Mulher e Sade pelo Programa de Ps-Graduao da Escola de Enfermagem da Universidade

Federal da Bahia -EEUFBA, Salvador, Brasil.

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As reflexes iniciais apresentavam a mulher como grupo social historicamente discriminado,

explorado e subordinado. Posteriormente a compreenso nas relaes de gnero entre homens e

mulheres e os seus recortes envolvendo tambm classe, etnia, questes polticas e outras variveis

foi necessria, para compreender que as relaes no so fixas e sim modificveis de acordo com o

tempo e espao (SARDENBERG; MACEDO, 2011).

A diferenciao entre os sexos pressupe a definio do que so as caractersticas que

formam a identidade do masculino e do feminino. No apenas as mulheres aprendem a ser

femininas e submissas, e so controladas nisto, mas tambm os homens so vigiados na manuteno

de sua masculinidade. [...] E se o gnero se preocupa em escrever uma Histria das Mulheres, deve

igualmente se ocupar de escrever uma Histria dos Homens, que tambm nunca existiu. Pois se eles

estiveram sempre nos livros de histria e nos arquivos, estiveram enquanto uma categoria

construda social e politicamente, tanto quanto as mulheres o foram em sua ausncia (MEDEIROS

et al., 2016).

Os mesmos autores citam que gnero expe, ainda, o dilema da diferena, a construo de

desigualdades binrias, de diferenas pretensamente naturais [...]. A partir do gnero pode-se

perceber a organizao concreta e simblica da vida social e as conexes de poder nas relaes

entre os sexos.

A reproduo das relaes sociais atravs de diferentes mecanismos, como os processos de

socializao, tem sido responsabilizada pela perpetuao de ideologias e contradies da vida. Para

o caso particular das mulheres, a reproduo das relaes de gnero desiguais responde certamente

pelo seu estatuto social nas vrias pocas e lugares, como hoje, mesmo que as formas e o contedo

dessas desigualdades sejam diferentes e relativizadas no tempo (SPIZZIRRI; PEREIRA; ABDO,

2014).

O movimento feminista apresenta importantes modificaes sobre as reflexes envolvendo a

mulher e pode ser considerada a ruptura que possibilitou uma das transformaes mais radicais

deste sculo que foi a modificao da posio das mulheres na sociedade ocidental. Em poucas

dcadas o feminismo mudou relaes de autoridade milenares, abalou a estrutura tradicional

familiar e promoveu um rompimento com uma forma de alienao considerada absolutamente

natural por sculos, definida pela submisso das mulheres aos homens (ALMEIDA, 2011).

Para Sardenberg e Costa (1994), o feminismo enquanto um movimento social se diferencia

dos demais movimentos de mulheres por questionar as hierarquias nas relaes de gnero e propor

uma conscincia de gnero feminino/feminista. Essa conscincia alicera as estratgias polticas

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feministas, sejam prticas e/ou tericas, visando ao enfrentamento das opresses de gnero, o que

nem sempre acontecem com outros movimentos de mulheres, cujas reivindicaes no so direitos

especficos. O feminismo, como doutrina que preconiza a igualdade entre os sexos e a redefinio

do papel da mulher na sociedade, certamente a expresso mxima de conscincia crtica feminina

(COSTA; SARDENBERG, 2007).

Para Borges (2014), o pensamento feminista e de gnero representa um forte avano por

oferecer subsdios tericos e metodolgicos importantes e que so responsveis pela formao de

pensadoras acadmicos e intelectuais para este novo campo, alm de produzir questionamentos e

reforar a sua consolidao, contribuindo desta forma para preparaes de questes que so centrais

na cincia e em seus diversos seguimentos. Para as autoras, o espao j est firmado, contudo

necessita ser solidificado e expandido.

Uma das formas dessa consolidao pode ocorrer atravs de prticas nas instituies de

ensino que possuem uma grande possibilidade de atuar na vida dos (as) alunos (as) preparando-as

para um novo olhar em diversos campos sociais inclusive sobre os comportamentos que so

construdos historicamente e culturalmente promovendo desta forma a construo de pessoas

conscientes e crticas, assim a Educao responsvel por prticas metodolgicas e educativas para

a transmisso de valores, ideias e comportamentos sobre vrias reflexes (COSTA et al., 2011, p.

9).

Os ncleos de ensino e pesquisa que envolvem professoras e pesquisadoras constituem

espaos para discusses sobre linhas de pesquisas com o aprofundamento de questes terico-

metodolgicas, permitindo assim o avano da discusso em torno da problemtica da mulher e das

relaes de gnero de acordo com a realidade de cada instituio. (SARDENBERG; MACEDO,

2011).

Desta forma, o projeto feminista na academia trouxe como consequncia o surgimento das

feministas acadmicas com questionamentos sobre a posio da mulher na sociedade marcada

pela invisibilidade. Assim torn-las visveis e sem desigualdades de gnero, tornou-se um dos

grandes objetivos dos temas pesquisados, implicando em novos conhecimentos cientficos inclusive

por ser identificado neste meio o sexismo e fragmentao entre as disciplinas, o que poderia

determinar os guetos cientfico-acadmicos femininos. As autoras indicam que h cerca de

quarenta ncleos de estudos que envolvem discusses sobre a mulher e/ou relaes de gnero

ligadas as universidades brasileiras, mas estes dados podem estar ultrapassados por conta do rpido

crescimento de ncleos recentemente. Muitos utilizam-se de pedagogias feministas que representam

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teorias e prticas educativas formuladas para desencadear um processo libertador e de uma

conscincia crtica atravs da educao (SARDENBERG, 2011, p. 18). Este tipo de pedagogia

reflete em imensa relevncia por interagir em dois campos, ensino e aprendizado, tendo como

embasamento princpios feministas no intuito de anular qualquer tipo de discriminao, sexismo,

patriarcalismo e qualquer tema que envolva questes de gnero, servindo assim como modelo para

as prticas pedaggicas e aes polticas proporcionando grupos de conhecimento em diversas

temticas e proporcionando troca de saberes (SARDENBERG, 2011, p. 25, 27).

Compreendendo a importncia de inserir, num curso eminentemente feminino, os elementos

do feminismo e a ampliao destes conceitos, as docentes da rea da sade da mulher atuantes na

graduao e na ps-graduao da Escola de Enfermagem da UFBA (EEUFBA), adotaram

estratgias para a construo do pensamento feminista, incorporando a perspectiva de gnero no

ensino, pesquisa e extenso (FERREIRA, 2012).

As universidades abrem uma grande oportunidade de espao para discusses e reflexes

com profundidade bem como o desenvolvimento de estudos e pesquisas sobre temas que envolvem

a mulher e relaes de gnero e consequentemente a disseminao da produo de conhecimentos e

saberes cientficos sobre a realidade das mulheres desde a violncia domstica, direitos sexuais

reprodutivos, sade da mulher e tantos outros temas relacionados ao mundo feminino, traduzindo

desta forma em fortalecimento e consolidao dos movimentos feministas.

Em 1987 inicia a implantao de estudos relacionados ao feminismo e s questes de gnero

nas esferas da graduao e ps-graduao na Escola de Enfermagem da EEUFBA influenciados por

professoras que tambm eram militantes do movimento feminista. Foi criado o Grupo de Estudos

sobre a Sade da Mulher (GEM) como inicialmente se definia e que atualmente tomou outra

dimenso, passando a ser um Centro de Estudos e Pesquisa Sobre Mulheres, Gnero, Sade e

Enfermagem, com influncia nacional e internacional. Desenvolve suas atividades atravs do

ensino, pesquisa e extenso no curso de Graduao e de Ps Graduao em Enfermagem da UFBA.

Assim, considerando a importncia deste Centro, para os estudos de gnero no mbito da

sade e enfermagem, o presente estudo tem como objetivo analisar a influncia do pensamento

feminista na Escola de Enfermagem da UFBA atravs das Dissertaes de Mestrado no perodo de

1991 a 2017 e Teses de Doutorado 2006 at 2016 produzidas e ou orientadas por docentes do Grupo

de Estudo Sobre a Sade da Mulher (GEM). O recorte temporal no aleatrio: analisa-se 26 anos

de criao da rea de concentrao no Mestrado em Enfermagem, denominada Enfermagem na

Ateno sade da Mulher e da Criana. No caso do Doutorado, desde a sua criao em 2006 at

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agora e cuja rea de concentrao passou a ser denominada: Gnero, cuidado e administrao em

sade, tendo como uma das suas linhas: Mulher, Gnero e Sade.

Materiais e Mtodos

Trata-se de um estudo exploratrio de abordagem quanti-qualitativa. A coleta de dados foi

realizada atravs da Plataforma Lattes das professoras e estudantes de Ps Graduao. Utilizou-se

tambm a Plataforma Sucupira para complementar as informaes. Foram utilizados como critrios

de incluso todas as dissertaes de mestrado concludas no perodo de 1991 a 2017 e as teses de

doutorado concludas no perodo de 2006 2016 orientadas por pesquisadoras vinculadas ao GEM

ou realizadas por estas, no Doutorado.

Resultados

Foram identificadas 103 dissertaes de mestrado concludas de 1991 at 2017 orientadas

pelas pesquisadoras do GEM. Embora catalogadas na linha mulher, gnero e sade do Programa

de Ps Graduao em Enfermagem, utiliza-se para esta anlise as linhas de pesquisa que constam

do Diretrio de Grupos de Pesquisa do CNPq apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1- Dissertaes de mestrado orientadas por pesquisadoras do GEM e distribudas por

linhas de pesquisa no perodo de 1991 a 2017, Salvador Bahia, 2017.

Dissertaes de

mestrado

1991-94 1995-98 1999-02 2003-06 2007-10 2011-14 2015-17 Total

Violncia,

sade, gnero e

enfermagem

__

1

5

4

3

10

4

27

Mulher, doenas

sexualmente

transmissveis e

AIDS

1 2 1 5 5 2 7 23

Polticas de

sade,

organizao de

servios e

produo do

__ 2 7 4 3 6 2 24

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conhecimento

sobre mulher,

gnero, trabalho

e sade

Sade da

mulher, relaes

de gnero e raa

e integralidade

do cuidado

__ __ __ 4 9 11 5 29

Total 1 5 13 17 20 29 18 103

Fonte: Currculo Lattes - Base de dados Plataforma Lattes

Dentre as linhas, a que apresentou o maior nmero de dissertaes foi Sade da mulher,

relaes de gnero e raa e integralidade do cuidado com 29 dissertaes seguido da linha

Violncia, sade, gnero e enfermagem, com 27, em seguida vem a linha Polticas de sade,

organizao de servios e produo do conhecimento sobre mulher, gnero, trabalho e sade com

24 e a linha Mulher, doena sexualmente transmissveis e AIDS com 23.

No perodo compreendido entre 1991 e 1994 apenas a linha Mulher, doena sexualmente

transmissveis e AIDS produziu 1 dissertao, as demais linhas no tiveram produo nestes anos.

No perodo seguinte, compreendido entre 1995 e 1998, essas mesmas linhas produziram 05

dissertaes e no perodo seguinte 1999 a 2001 foram produzidas 13 dissertaes, nos anos

subsequentes podemos destacar o perodo de 2011 e 2014 onde obteve maior quantidade de

dissertaes produzidas no total de 29.

importante registrar que em 1991 o Programa de Ps-Graduao foi modificado

incorporando as demandas apresentadas pelas professoras do GEM. As primeiras dissertaes

foram portanto produzidas a partir destas mudanas.

Observa-se que no perodo de 1991 a 2001 houve um maior quantitativo de dissertaes de

mestrado sendo 9 para a linha de Polticas de sade, organizao de servios e produo do

conhecimento sobre mulher, gnero, trabalho e sade, 06 para a linha Violncia, sade, gnero e

enfermagem e 4 para a linha Mulher, doenas sexualmente transmissveis e AIDS. Apenas a

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linha Mulher, doenas sexualmente transmissveis e AIDS teve produo em todos os perodos

analisados.

Foram identificadas 19 teses orientadas e ou realizadas de 2006 at 2016 orientadas pelas

pesquisadoras do GEM. Embora catalogadas na linha mulher, gnero e sade do Programa de Ps

Graduao em Enfermagem, utiliza-se para esta anlise as linhas de pesquisa que constam do

Diretrio de Grupos de Pesquisa do CNPq apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2 - Distribuio das Teses orientadas e ou realizadas por pesquisadoras do GEM

segundo as linhas de pesquisa no perodo de 2006 a 2016. Salvador Bahia, 2017.

Linhas de

Pesquisa

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Total

Mulher, doenas

sexualmente

transmissveis e

AIDS

___ ___ ___ 1 1 ___ ___ 2 1 5

Polticas de sade,

organizao de

servios e produo

do

conhecimento

sobre mulher,

gnero, trabalho e

sade

____ ___ ___ ___ 1 2 ___ 1 4

Violncia, sade,

gnero e

enfermagem

___ ___ ___ 1 1 ___ ___ 1 1 2 6

Qualidade de vida e

doena falciforme

___ ___ ___ ___ ___ 1 ___ ___ 1

Sade da mulher,

relaes de gnero

e raa e

integralidade do

cuidado

___ ___ ___ ___ ___ 1 ___ ___ 1 1 3

Total por ano 2 3 4 4 1 3 2 19

Fonte: Currculo Lattes - Base de dados Plataforma Lattes

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No perodo estudado a linha Mulher, doenas sexualmente transmissveis e AIDS

apresentou maior nmero de teses orientadas pelas pesquisadoras do GEM. Os anos de 2011 e 2013

foram os que mais produziram no perodo analisado.

Na linha Violncia, sade, gnero e enfermagem, cujo objetivo estudar a violncia

fsica, emocional, sexual e por atos destrutivos contra a mulher foram produzidas duas teses,

durante o perodo. A primeira de ttulo Trilhando caminhos para o enfrentamento da violncia

conjugal que analisou a violncia conjugal e os processos de enfrentamento j que essa violncia

permanecia mesmo no ciclo gestacional trazendo consequncias para a sade. A segunda O

quotidiano e o imaginrio de mulheres que provocaram aborto em um contexto de violncia

domstica: contribuies para um cuidar em enfermagem e sade analisa que a violncia nas

relaes domsticas e conjugais um fator de risco para o aborto tanto pela razo do trauma fsico

e/ou psicolgico quanto pela deciso da mulher para realizar o aborto pela vivncia dessa violncia.

A terceira que se trata Fatores associados vivncia de violncia intrafamiliar e escolar, e as

subsequentes que se tratam de Significados de homens em processo criminal sobre a violncia e a

experincia jurdico-policial, Quotidiano de Mulheres do Seminrio Nordestino que sofreram

violncia sexual intrafamiliar e Representaes Sociais de Familiares sobre violncia de gnero.

A linha Mulher, doenas sexualmente transmissveis e AIDS ficou em destaque por conta

da segunda linha a produzir mais teses. A linha trabalha com o tema DST/HIV e AIDS tem como

objetivo discutir questes sobre corpo e sexualidade articulando com as vulnerabilidades de gnero,

sexuais, raciais, geracionais e econmicas. Foram concludas quatro teses, nesse perodo. A

primeira de ttulo Soropositividade de mulheres para os vrus HIV e HTLV: significados do

contgio do leite materno analisou os significados e sentimentos das mulheres frente as

representaes sociais de uma situao de contgio do HIV ou HTLV pela amamentao. A

segunda tese Viver a sexualidade com o corpo ferido: representaes de mulheres e homens

mostrou o sentimento de mulheres e homens com o corpo ferido. Enquanto as mulheres feridas

viam seu corpo como algo repugnante e pouco atraente, os homens feridos viam seu corpo como

frgeis, inabilitado para o trabalho fortalecendo a ideia social de que o homem tem que ser forte,

agressivo e viril. A terceira tese Vivncia da sexualidade: Representaes sociais de pessoas

soropositivas para o HTLV teve o objetivo de entender o significado da sexualidade, as

representaes sociais e a vivncia da sexualidade de mulheres e homens soropositivas/os para o

HTLV. Contatou-se que houve grandes mudanas na vida dessas pessoas depois da descoberta da

soropositividade. Relaes afetivas, a qual muitos relacionamentos foram rompidos pela descoberta

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do acometimento do HTLV; relaes sociais, a qual essas eram melhores antes do diagnstico e a

sexualidade, a qual somente os homens acometidos pelo HTLV sentiam prazer e o uso do

preservativo que mesmo com o conhecimento da sua importncia no era utilizado. A quarta tese,

Representaes sociais de mulheres submetidas Revascularizao do miocrdio sobre seu corpo:

repercusses para a sexualidade analisa as representaes sociais de mulheres submetidas

revascularizao do miocrdio sobre o seu corpo e as implicaes na sexualidade e a quinta tese que

trata Representaes sociais e cuidados de enfermeira(o)s a mulheres envolvidas com drogas no

perodo gravdico-puerperal. Todas as mulheres que participaram do estudo evidenciaram de forma

negativa como a cirurgia, mesmo trazendo melhorias em relao a patologia, repercutiu na

sexualidade. Esses sentimentos so principalmente pelas cicatrizes presentes, aps a cirurgia,

conduzindo a um sentimento de solido e distanciamento da sexualidade.

Os direitos sexuais e reprodutivos esto nas reivindicaes de mulheres, ao defenderem a

propriedade sobre os prprios corpos para o livre exerccio da sexualidade, pela escolha livre da

maternidade, pela contra s rgidas rotinas de modelagem e apresentao do corpo. Isso ainda

mais agravante nas mulheres soropositivas para HIV/HTLV ou algum tipo de modificao no

corpo.

Discusso

O termo gnero foi adotado pelas feministas na dcada de 70 em resposta s exigncias de

compreenso e explicao da subordinao das mulheres e para de diferenciar os conceitos de

gnero e sexo (BARBIERI, 1991). Segundo Sardenberg e Macedo (2011, p. 36) o termo sexo

limita-se as caractersticas fisiolgicas, o gnero envolve uma construo cultural de relaes entre

homens e mulheres, no considerando os aspectos fsicos, provocando hierarquias e desigualdades,

definindo desta forma que estes conceitos so distintos.

uma categoria histrica e de anlise pois envolve vrias esferas como instituies sociais,

cultura e representaes, atribuies advindas de caractersticas (SAFFIOTI, 2015, p. 47).

As diferenas e desigualdades que (ainda) separam homens e mulheres no mundo

contemporneo so relativamente grandes, mesmo que o seu contedo tenha se modificado ao longo

do tempo ao ponto de chegar a mascarar a realidade para muita (o)s que teimam em no enxerg-los

sob o discurso da universalidade dos fenmenos sociais. Tais pontos de vista, ao considerarem as

mulheres, como homens, sujeitas s mesmas ordens sociais porque inseridas num mesmo contexto

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de classe, por exemplo, em nada contribuem para a to buscada simetria de gnero

(NASCIMENTO, 1996).

Para Ferreira & Nascimento (2004), as relaes de poder implcitas nas diferenas de gnero

so histricas e esto implcitas nas relaes sociais, o que inclui questes referentes a trabalho,

educao, relaes familiares e sade, podendo ser abolidas mediante intervenes sobre o processo

que favorece o domnio e a explorao.

Os estudos sobre gnero possibilitaram sua incluso como categoria de anlise, o que

contribuiu para uma nova perspectiva no que diz respeito enfermagem e sade da mulher. Isso

refletiu numa nova organizao das prticas e na formao de enfermeiras (os) (FERREIRA, 2012).

Desta forma, estudos e pesquisas que abordam a realidade sobre as especificidades das mulheres

favorecem atravs de prticas e metodologias educativas atravs de pedagogias femininas inclusive

no nvel superior em diferentes disciplinas no intuito de proporcionar uma ampla bibliografia

proporcionando a conscientizao de toda a sociedade sobre as perspectivas de gnero e inclusive o

empoderamento das mulheres (SARDENBERG, 2011, p. 18).

Avaliando os resultados da pesquisa apresentados nas Tabelas 1 e 2, vimos o quantitativo de

pesquisas envolvendo gnero e problemas na vida social das mulheres. fundamental a presena do

feminismo nas universidades, sendo esse um espao de desconstrues e construes moldadas a

partir de um pensamento crtico e reflexivo.

As docentes tm um papel fundamental na insero de elementos feministas em

componentes curriculares que possuam vnculo com assuntos relacionados sade da mulher e as

relaes sociais de gnero; principalmente em cursos majoritariamente feminino, como o curso de

enfermagem que tem no seu campo de trabalho voltado para o cuidado humano, sendo esse um

papel muito associado s mulheres. possvel analisar atravs da histria da humanidade que a

diviso sexual do trabalho colocou na maioria das vezes a mulher em prticas femininas

relacionadas ao cuidado.

A abertura de espaos nas universidades para pesquisas e discusses sobre temticas

relacionas ao feminismo, mulher e relaes de gnero nas universidades no uma tarefa fcil de

reconhecimento de relevncia, em alguns locais estes temas ainda so vistos em condies no

favorveis e mesmo dentro das universidades ainda resiste ambientes hostis e de militncia

(COSTA; SARDENBERG, 2014).

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Portanto, sendo o cuidado a prtica mais antiga do mundo e inerente a vida sempre contou

com a participao ativa das mulheres, sendo visto socialmente como algo inato a mulher, no

alcanando seu reconhecimento social. (COLLIRE, 1989)

Assim, possvel notar como importante a existncia de um movimento que contribua na

reduo da vulnerabilidade da mulher na sociedade e uma das melhores formas atravs de

pesquisas cientficas que abordam a realidade, experincias e o cotidiano de mulheres sobre

diversos temas. Nesse contexto, o movimento feminista tem o objetivo de lutar especificamente

pelo direito das mulheres e colaborar com a melhoria das condies de sade. As feministas j

alcanaram diversas conquistas e continuam lutando por mudanas relacionadas a sexualidade,

gravidez, contracepo e acesso aos servios de sade.

Referncias

ALMEIDA, Jane Soares de. As relaes de poder nas desigualdades de gnero na educao e na

sociedade. Campo Grande - MS, n. 31, p. 165-181, jan./jun. 201.

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Feminist thinking in the UFBA nursing school

Abstract: Feminism advocates equality between the sexes and redefining the role of women in

society. This thinking in the academy is composed of university professors, feminist researchers,

who aggregate into groups of studies involving gender or women, seeking to build a knowledge that

is engaged in obtaining answers to problems in women's social life. A Center for Studies and

Research on Women, Gender, Health and Nursing (GEM), with the aim of developing research in

these areas. Objective: to analyze the influence of feminist thinking on the scientific production in

the School of Nursing in theses from 2006 to 2013 and dissertations from 1991 to 2001. An

exploratory study of quantitative-qualitative approach was used and the data collection took place

on the basis of Platform Lattes. Data were analyzed through the Bardin content analysis. Thirteen

publications in theses and 23 dissertations were identified. The results show the commitment of the

teachers to the promotion of academic feminism, being fundamental the presence of these

professionals for the construction of reflective thinking and in the training of the students mainly in

courses mainly female. It can be concluded that the studies on gender initially obtained a timid

production, over the years increased this quantitative, which may indicate greater interest and / or

strengthening of GEM as a school study group.

Keywords: Feminism; Gender Identity; Nursing