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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
O PENSAMENTO FEMINISTA NA ESCOLA DE ENFERMAGEM DA UFBA
Ana Cleide da Silva Dias1
Silvia Lucia Ferreira2
Ueigla Batista da Silva³
Resumo: O pensamento feminista na academia trouxe como consequência o surgimento das
“feministas acadêmicas” com questionamentos sobre a posição da mulher na sociedade, sendo
composto por professoras universitárias, pesquisadoras, em grande maioria, feministas, que se
agregam em grupos de estudos sobre mulheres e relações de gênero, fortalecendo os movimentos
feministas. Assim foi criado na escola de Enfermagem da UFBA, um Grupo de Estudo Sobre a
Saúde da Mulher (GEM) com o intuito de desenvolver pesquisas nessas áreas. A pesquisa objetiva
analisar a influência do pensamento feminista na produção científica na escola de Enfermagem nas
teses no período de 2006 à 2016 e dissertações de 1991 à 2017. Para tal, foi realizada uma pesquisa
exploratória de abordagem quanti-qualitativa e coleta de dados na base da Plataforma Lattes.
Resultado: das 19 teses e 103 dissertações analisadas, apontaram inicialmente uma produção tímida,
com o passar dos anos aumentou esse quantitativo, demonstrando o engajamento das professoras
para a promoção do feminismo acadêmico. A importância da presença da academia para a
construção de pensamento reflexivo sobre gênero e na formação das discentes principalmente em
cursos majoritariamente feminino, pode indicar maior fortalecimento do GEM como grupo de
estudo da escola.
Palavras-chave: Feminismo. Gênero. Enfermagem.
Estudos que envolvem a mulher no Brasil foram iniciados na década de 60 com objetivo
principal compreender as transformações sociais principalmente no mundo do trabalho e de como
se dava a inserção das mesmas em um contexto até então dominado pelo masculino. Entretanto é a
partir da Década da Mulher instituído pela ONU em 1975 que este tema ganhou mais força e
estimulou o surgimento de diversos grupos de mulheres incluindo as feministas na academia com o
desenvolvimento de pesquisas envolvendo a divisão sexual do trabalho, discriminações sociais entre
sexos e o papel tradicional da mulher na sociedade e na família (COSTA; SARDENBERG, 2014).
As reflexões sobre gênero possibilitaram o deslocamento da dicotomia masculino e feminino
apresentada apenas como uma questão biológica e natural para entender como se dão as relações
tendo por base o sexo. Trouxe luzes para o entendimento da subordinação das mulheres e o
entrelaçamento de aspectos culturais, econômico, étnico e sociais.
1 Doutoranda em Gênero, Mulher e Saúde pelo Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da Universidade
Federal da Bahia -EEUFBA, Salvador, Brasil. 2 Professora Doutora, da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia - EEUFBA, Salvador - BA, Brasil.
³ Mestrando em Gênero, Mulher e Saúde pelo Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da Universidade
Federal da Bahia -EEUFBA, Salvador, Brasil.
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As reflexões iniciais apresentavam a mulher como grupo social historicamente discriminado,
explorado e subordinado. Posteriormente a compreensão nas relações de gênero entre homens e
mulheres e os seus recortes envolvendo também classe, etnia, questões políticas e outras variáveis
foi necessária, para compreender que as relações não são fixas e sim modificáveis de acordo com o
tempo e espaço (SARDENBERG; MACEDO, 2011).
A diferenciação entre os sexos pressupõe a definição do que são as características que
formam a identidade do masculino e do feminino. Não apenas as mulheres aprendem a ser
femininas e submissas, e são controladas nisto, mas também os homens são vigiados na manutenção
de sua masculinidade. [...] E se o gênero se preocupa em escrever uma História das Mulheres, deve
igualmente se ocupar de escrever uma História dos Homens, que também nunca existiu. Pois se eles
estiveram sempre nos livros de história e nos arquivos, estiveram enquanto uma categoria
construída social e politicamente, tanto quanto as mulheres o foram em sua ausência (MEDEIROS
et al., 2016).
Os mesmos autores citam que gênero expõe, ainda, o dilema da diferença, a construção de
desigualdades binárias, de diferenças pretensamente naturais [...]. A partir do gênero pode-se
perceber a organização concreta e simbólica da vida social e as conexões de poder nas relações
entre os sexos.
A reprodução das relações sociais através de diferentes mecanismos, como os processos de
socialização, tem sido responsabilizada pela perpetuação de ideologias e contradições da vida. Para
o caso particular das mulheres, a reprodução das relações de gênero desiguais responde certamente
pelo seu estatuto social nas várias épocas e lugares, como hoje, mesmo que as formas e o conteúdo
dessas desigualdades sejam diferentes e relativizadas no tempo (SPIZZIRRI; PEREIRA; ABDO,
2014).
O movimento feminista apresenta importantes modificações sobre as reflexões envolvendo a
mulher e pode ser considerada a ruptura que possibilitou uma das transformações mais radicais
deste século que foi a modificação da posição das mulheres na sociedade ocidental. Em poucas
décadas o feminismo mudou relações de autoridade milenares, abalou a estrutura tradicional
familiar e promoveu um rompimento com uma forma de alienação considerada absolutamente
natural por séculos, definida pela submissão das mulheres aos homens (ALMEIDA, 2011).
Para Sardenberg e Costa (1994), o feminismo enquanto um movimento social se diferencia
dos demais movimentos de mulheres por questionar as hierarquias nas relações de gênero e propor
uma consciência de gênero feminino/feminista. Essa consciência alicerça as estratégias políticas
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feministas, sejam práticas e/ou teóricas, visando ao enfrentamento das opressões de gênero, o que
nem sempre acontecem com outros movimentos de mulheres, cujas reivindicações não são direitos
específicos. “O feminismo, como doutrina que preconiza a igualdade entre os sexos e a redefinição
do papel da mulher na sociedade, é certamente a expressão máxima de consciência crítica feminina”
(COSTA; SARDENBERG, 2007).
Para Borges (2014), o pensamento feminista e de gênero representa um forte avanço por
oferecer subsídios teóricos e metodológicos importantes e que são responsáveis pela formação de
pensadoras acadêmicos e intelectuais para este novo campo, além de produzir questionamentos e
reforçar a sua consolidação, contribuindo desta forma para preparações de questões que são centrais
na ciência e em seus diversos seguimentos. Para as autoras, o espaço já está firmado, contudo
necessita ser solidificado e expandido.
Uma das formas dessa consolidação pode ocorrer através de práticas nas instituições de
ensino que possuem uma grande possibilidade de atuar na vida dos (as) alunos (as) preparando-as
para um novo olhar em diversos campos sociais inclusive sobre os comportamentos que são
construídos historicamente e culturalmente promovendo desta forma a construção de pessoas
conscientes e críticas, assim a Educação é responsável por práticas metodológicas e educativas para
a transmissão de valores, ideias e comportamentos sobre várias reflexões (COSTA et al., 2011, p.
9).
Os núcleos de ensino e pesquisa que envolvem professoras e pesquisadoras constituem
espaços para discussões sobre linhas de pesquisas com o aprofundamento de questões teórico-
metodológicas, permitindo assim o avanço da discussão em torno da problemática da mulher e das
relações de gênero de acordo com a realidade de cada instituição. (SARDENBERG; MACEDO,
2011).
Desta forma, o projeto feminista na academia trouxe como consequência o surgimento das
“feministas acadêmicas” com questionamentos sobre a posição da mulher na sociedade marcada
pela invisibilidade. Assim torná-las visíveis e sem desigualdades de gênero, tornou-se um dos
grandes objetivos dos temas pesquisados, implicando em novos conhecimentos científicos inclusive
por ser identificado neste meio o sexismo e fragmentação entre as disciplinas, o que poderia
determinar os “guetos científico-acadêmicos femininos”. As autoras indicam que há cerca de
quarenta núcleos de estudos que envolvem discussões sobre a mulher e/ou relações de gênero
ligadas as universidades brasileiras, mas estes dados podem estar ultrapassados por conta do rápido
crescimento de núcleos recentemente. Muitos utilizam-se de pedagogias feministas que representam
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teorias e práticas educativas formuladas para desencadear um processo libertador e de uma
consciência crítica através da educação (SARDENBERG, 2011, p. 18). Este tipo de pedagogia
reflete em imensa relevância por interagir em dois campos, ensino e aprendizado, tendo como
embasamento princípios feministas no intuito de anular qualquer tipo de discriminação, sexismo,
patriarcalismo e qualquer tema que envolva questões de gênero, servindo assim como modelo para
as práticas pedagógicas e ações políticas proporcionando grupos de conhecimento em diversas
temáticas e proporcionando troca de saberes (SARDENBERG, 2011, p. 25, 27).
Compreendendo a importância de inserir, num curso eminentemente feminino, os elementos
do feminismo e a ampliação destes conceitos, as docentes da área da saúde da mulher atuantes na
graduação e na pós-graduação da Escola de Enfermagem da UFBA (EEUFBA), adotaram
estratégias para a construção do pensamento feminista, incorporando a perspectiva de gênero no
ensino, pesquisa e extensão (FERREIRA, 2012).
As universidades abrem uma grande oportunidade de espaço para discussões e reflexões
com profundidade bem como o desenvolvimento de estudos e pesquisas sobre temas que envolvem
a mulher e relações de gênero e consequentemente a disseminação da produção de conhecimentos e
saberes científicos sobre a realidade das mulheres desde a violência doméstica, direitos sexuais
reprodutivos, saúde da mulher e tantos outros temas relacionados ao mundo feminino, traduzindo
desta forma em fortalecimento e consolidação dos movimentos feministas.
Em 1987 inicia a implantação de estudos relacionados ao feminismo e às questões de gênero
nas esferas da graduação e pós-graduação na Escola de Enfermagem da EEUFBA influenciados por
professoras que também eram militantes do movimento feminista. Foi criado o Grupo de Estudos
sobre a Saúde da Mulher (GEM) como inicialmente se definia e que atualmente tomou outra
dimensão, passando a ser um Centro de Estudos e Pesquisa Sobre Mulheres, Gênero, Saúde e
Enfermagem, com influência nacional e internacional. Desenvolve suas atividades através do
ensino, pesquisa e extensão no curso de Graduação e de Pós Graduação em Enfermagem da UFBA.
Assim, considerando a importância deste Centro, para os estudos de gênero no âmbito da
saúde e enfermagem, o presente estudo tem como objetivo analisar a influência do pensamento
feminista na Escola de Enfermagem da UFBA através das Dissertações de Mestrado no período de
1991 a 2017 e Teses de Doutorado 2006 até 2016 produzidas e ou orientadas por docentes do Grupo
de Estudo Sobre a Saúde da Mulher (GEM). O recorte temporal não é aleatório: analisa-se 26 anos
de criação da área de concentração no Mestrado em Enfermagem, denominada Enfermagem na
Atenção à saúde da Mulher e da Criança. No caso do Doutorado, desde a sua criação em 2006 até
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agora e cuja área de concentração passou a ser denominada: Gênero, cuidado e administração em
saúde, tendo como uma das suas linhas: Mulher, Gênero e Saúde.
Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo exploratório de abordagem quanti-qualitativa. A coleta de dados foi
realizada através da Plataforma Lattes das professoras e estudantes de Pós Graduação. Utilizou-se
também a Plataforma Sucupira para complementar as informações. Foram utilizados como critérios
de inclusão todas as dissertações de mestrado concluídas no período de 1991 a 2017 e as teses de
doutorado concluídas no período de 2006 à 2016 orientadas por pesquisadoras vinculadas ao GEM
ou realizadas por estas, no Doutorado.
Resultados
Foram identificadas 103 dissertações de mestrado concluídas de 1991 até 2017 orientadas
pelas pesquisadoras do GEM. Embora catalogadas na linha “mulher, gênero e saúde” do Programa
de Pós Graduação em Enfermagem, utiliza-se para esta análise as linhas de pesquisa que constam
do Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1- Dissertações de mestrado orientadas por pesquisadoras do GEM e distribuídas por
linhas de pesquisa no período de 1991 a 2017, Salvador – Bahia, 2017.
Dissertações de
mestrado
1991-94 1995-98 1999-02 2003-06 2007-10 2011-14 2015-17 Total
Violência,
saúde, gênero e
enfermagem
__
1
5
4
3
10
4
27
Mulher, doenças
sexualmente
transmissíveis e
AIDS
1 2 1 5 5 2 7 23
Políticas de
saúde,
organização de
serviços e
produção do
__ 2 7 4 3 6 2 24
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conhecimento
sobre mulher,
gênero, trabalho
e saúde
Saúde da
mulher, relações
de gênero e raça
e integralidade
do cuidado
__ __ __ 4 9 11 5 29
Total 1 5 13 17 20 29 18 103
Fonte: Currículo Lattes - Base de dados Plataforma Lattes
Dentre as linhas, a que apresentou o maior número de dissertações foi “Saúde da mulher,
relações de gênero e raça e integralidade do cuidado” com 29 dissertações seguido da linha
“Violência, saúde, gênero e enfermagem”, com 27, em seguida vem a linha “Políticas de saúde,
organização de serviços e produção do conhecimento sobre mulher, gênero, trabalho e saúde” com
24 e a linha “Mulher, doença sexualmente transmissíveis e AIDS” com 23.
No período compreendido entre 1991 e 1994 apenas a linha “Mulher, doença sexualmente
transmissíveis e AIDS” produziu 1 dissertação, as demais linhas não tiveram produção nestes anos.
No período seguinte, compreendido entre 1995 e 1998, essas mesmas linhas produziram 05
dissertações e no período seguinte 1999 a 2001 foram produzidas 13 dissertações, nos anos
subsequentes podemos destacar o período de 2011 e 2014 onde obteve maior quantidade de
dissertações produzidas no total de 29.
É importante registrar que em 1991 o Programa de Pós-Graduação foi modificado
incorporando as demandas apresentadas pelas professoras do GEM. As primeiras dissertações
foram portanto produzidas a partir destas mudanças.
Observa-se que no período de 1991 a 2001 houve um maior quantitativo de dissertações de
mestrado sendo 9 para a linha de “Políticas de saúde, organização de serviços e produção do
conhecimento sobre mulher, gênero, trabalho e saúde”, 06 para a linha “Violência, saúde, gênero e
enfermagem” e 4 para a linha “Mulher, doenças sexualmente transmissíveis e AIDS”. Apenas a
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linha “Mulher, doenças sexualmente transmissíveis e AIDS” teve produção em todos os períodos
analisados.
Foram identificadas 19 teses orientadas e ou realizadas de 2006 até 2016 orientadas pelas
pesquisadoras do GEM. Embora catalogadas na linha “mulher, gênero e saúde” do Programa de Pós
Graduação em Enfermagem, utiliza-se para esta análise as linhas de pesquisa que constam do
Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq apresentadas na Tabela 2.
Tabela 2 - Distribuição das Teses orientadas e ou realizadas por pesquisadoras do GEM
segundo as linhas de pesquisa no período de 2006 a 2016. Salvador – Bahia, 2017.
Linhas de
Pesquisa
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Total
Mulher, doenças
sexualmente
transmissíveis e
AIDS
___ ___ ___ 1 1 ___ ___ 2 1 5
Políticas de saúde,
organização de
serviços e produção
do
conhecimento
sobre mulher,
gênero, trabalho e
saúde
____ ___ ___ ___ 1 2 ___ 1 4
Violência, saúde,
gênero e
enfermagem
___ ___ ___ 1 1 ___ ___ 1 1 2 6
Qualidade de vida e
doença falciforme
___ ___ ___ ___ ___ 1 ___ ___ 1
Saúde da mulher,
relações de gênero
e raça e
integralidade do
cuidado
___ ___ ___ ___ ___ 1 ___ ___ 1 1 3
Total por ano 2 3 4 4 1 3 2 19
Fonte: Currículo Lattes - Base de dados Plataforma Lattes
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No período estudado a linha “Mulher, doenças sexualmente transmissíveis e AIDS”
apresentou maior número de teses orientadas pelas pesquisadoras do GEM. Os anos de 2011 e 2013
foram os que mais produziram no período analisado.
Na linha “Violência, saúde, gênero e enfermagem”, cujo objetivo é estudar a violência
física, emocional, sexual e por atos destrutivos contra a mulher foram produzidas duas teses,
durante o período. A primeira de título “Trilhando caminhos para o enfrentamento da violência
conjugal” que analisou a violência conjugal e os processos de enfrentamento já que essa violência
permanecia mesmo no ciclo gestacional trazendo consequências para a saúde. A segunda “O
quotidiano e o imaginário de mulheres que provocaram aborto em um contexto de violência
doméstica: contribuições para um cuidar em enfermagem e saúde” analisa que a violência nas
relações domésticas e conjugais é um fator de risco para o aborto tanto pela razão do trauma físico
e/ou psicológico quanto pela decisão da mulher para realizar o aborto pela vivência dessa violência.
A terceira que se trata “Fatores associados à vivência de violência intrafamiliar e escolar”, e as
subsequentes que se tratam de “Significados de homens em processo criminal sobre a violência e a
experiência jurídico-policial”, “Quotidiano de Mulheres do Seminário Nordestino que sofreram
violência sexual intrafamiliar” e “Representações Sociais de Familiares sobre violência de gênero”.
A linha “Mulher, doenças sexualmente transmissíveis e AIDS” ficou em destaque por conta
da segunda linha a produzir mais teses. A linha trabalha com o tema DST/HIV e AIDS tem como
objetivo discutir questões sobre corpo e sexualidade articulando com as vulnerabilidades de gênero,
sexuais, raciais, geracionais e econômicas. Foram concluídas quatro teses, nesse período. A
primeira de título “Soropositividade de mulheres para os vírus HIV e HTLV: significados do
contágio do leite materno” analisou os significados e sentimentos das mulheres frente as
representações sociais de uma situação de contágio do HIV ou HTLV pela amamentação. A
segunda tese “Viver a sexualidade com o corpo ferido: representações de mulheres e homens”
mostrou o sentimento de mulheres e homens com o corpo ferido. Enquanto as mulheres feridas
viam seu corpo como algo repugnante e pouco atraente, os homens feridos viam seu corpo como
frágeis, inabilitado para o trabalho fortalecendo a ideia social de que o homem tem que ser forte,
agressivo e viril. A terceira tese “Vivência da sexualidade: Representações sociais de pessoas
soropositivas para o HTLV” teve o objetivo de entender o significado da sexualidade, as
representações sociais e a vivência da sexualidade de mulheres e homens soropositivas/os para o
HTLV. Contatou-se que houve grandes mudanças na vida dessas pessoas depois da descoberta da
soropositividade. Relações afetivas, a qual muitos relacionamentos foram rompidos pela descoberta
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do acometimento do HTLV; relações sociais, a qual essas eram melhores antes do diagnóstico e a
sexualidade, a qual somente os homens acometidos pelo HTLV sentiam prazer e o uso do
preservativo que mesmo com o conhecimento da sua importância não era utilizado. A quarta tese,
“Representações sociais de mulheres submetidas à Revascularização do miocárdio sobre seu corpo:
repercussões para a sexualidade” analisa as representações sociais de mulheres submetidas à
revascularização do miocárdio sobre o seu corpo e as implicações na sexualidade e a quinta tese que
trata “Representações sociais e cuidados de enfermeira(o)s a mulheres envolvidas com drogas no
período gravídico-puerperal”. Todas as mulheres que participaram do estudo evidenciaram de forma
negativa como a cirurgia, mesmo trazendo melhorias em relação a patologia, repercutiu na
sexualidade. Esses sentimentos são principalmente pelas cicatrizes presentes, após a cirurgia,
conduzindo a um sentimento de solidão e distanciamento da sexualidade.
Os direitos sexuais e reprodutivos estão nas reivindicações de mulheres, ao defenderem a
propriedade sobre os próprios corpos para o livre exercício da sexualidade, pela escolha livre da
maternidade, pela contra às rígidas rotinas de modelagem e apresentação do corpo. Isso é ainda
mais agravante nas mulheres soropositivas para HIV/HTLV ou algum tipo de modificação no
corpo.
Discussão
O termo gênero foi adotado pelas feministas na década de 70 em resposta às exigências de
compreensão e explicação da subordinação das mulheres e para de diferenciar os conceitos de
gênero e sexo (BARBIERI, 1991). Segundo Sardenberg e Macedo (2011, p. 36) o termo sexo
limita-se as características fisiológicas, o gênero envolve uma construção cultural de relações entre
homens e mulheres, não considerando os aspectos físicos, provocando hierarquias e desigualdades,
definindo desta forma que estes conceitos são distintos.
É uma categoria histórica e de análise pois envolve várias esferas como instituições sociais,
cultura e representações, atribuições advindas de características (SAFFIOTI, 2015, p. 47).
As diferenças e desigualdades que (ainda) separam homens e mulheres no mundo
contemporâneo são relativamente grandes, mesmo que o seu conteúdo tenha se modificado ao longo
do tempo ao ponto de chegar a mascarar a realidade para muita (o)s que teimam em não enxergá-los
sob o discurso da universalidade dos fenômenos sociais. Tais pontos de vista, ao considerarem as
mulheres, como homens, sujeitas às mesmas ordens sociais porque inseridas num mesmo contexto
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de classe, por exemplo, em nada contribuem para a tão buscada simetria de gênero
(NASCIMENTO, 1996).
Para Ferreira & Nascimento (2004), as relações de poder implícitas nas diferenças de gênero
são históricas e estão implícitas nas relações sociais, o que inclui questões referentes a trabalho,
educação, relações familiares e saúde, podendo ser abolidas mediante intervenções sobre o processo
que favorece o domínio e a exploração.
Os estudos sobre gênero possibilitaram sua inclusão como categoria de análise, o que
contribuiu para uma nova perspectiva no que diz respeito à enfermagem e à saúde da mulher. Isso
refletiu numa nova organização das práticas e na formação de enfermeiras (os) (FERREIRA, 2012).
Desta forma, estudos e pesquisas que abordam a realidade sobre as especificidades das mulheres
favorecem através de práticas e metodologias educativas através de pedagogias femininas inclusive
no nível superior em diferentes disciplinas no intuito de proporcionar uma ampla bibliografia
proporcionando a conscientização de toda a sociedade sobre as perspectivas de gênero e inclusive o
empoderamento das mulheres (SARDENBERG, 2011, p. 18).
Avaliando os resultados da pesquisa apresentados nas Tabelas 1 e 2, vimos o quantitativo de
pesquisas envolvendo gênero e problemas na vida social das mulheres. É fundamental a presença do
feminismo nas universidades, sendo esse um espaço de desconstruções e construções moldadas a
partir de um pensamento crítico e reflexivo.
As docentes têm um papel fundamental na inserção de elementos feministas em
componentes curriculares que possuam vínculo com assuntos relacionados à saúde da mulher e as
relações sociais de gênero; principalmente em cursos majoritariamente feminino, como o curso de
enfermagem que tem no seu campo de trabalho voltado para o cuidado humano, sendo esse um
papel muito associado às mulheres. É possível analisar através da história da humanidade que a
divisão sexual do trabalho colocou na maioria das vezes a mulher em práticas femininas
relacionadas ao cuidado.
A abertura de espaços nas universidades para pesquisas e discussões sobre temáticas
relacionas ao feminismo, mulher e relações de gênero nas universidades não é uma tarefa fácil de
reconhecimento de relevância, em alguns locais estes temas ainda são vistos em condições não
favoráveis e mesmo dentro das universidades ainda resiste ambientes hostis e de militância
(COSTA; SARDENBERG, 2014).
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Portanto, sendo o cuidado a prática mais antiga do mundo e inerente a vida sempre contou
com a participação ativa das mulheres, sendo visto socialmente como algo inato a mulher, não
alcançando seu reconhecimento social. (COLLIÈRE, 1989)
Assim, é possível notar como é importante a existência de um movimento que contribua na
redução da vulnerabilidade da mulher na sociedade e uma das melhores formas é através de
pesquisas científicas que abordam a realidade, experiências e o cotidiano de mulheres sobre
diversos temas. Nesse contexto, o movimento feminista tem o objetivo de lutar especificamente
pelo direito das mulheres e colaborar com a melhoria das condições de saúde. As feministas já
alcançaram diversas conquistas e continuam lutando por mudanças relacionadas a sexualidade,
gravidez, contracepção e acesso aos serviços de saúde.
Referências
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http://files.bvs.br/upload/S/1413-9979/2014/v19n1/a3969.pdf>. Acesso em: 10 Nov 2016.
Feminist thinking in the UFBA nursing school
Abstract: Feminism advocates equality between the sexes and redefining the role of women in
society. This thinking in the academy is composed of university professors, feminist researchers,
who aggregate into groups of studies involving gender or women, seeking to build a knowledge that
is engaged in obtaining answers to problems in women's social life. A Center for Studies and
Research on Women, Gender, Health and Nursing (GEM), with the aim of developing research in
these areas. Objective: to analyze the influence of feminist thinking on the scientific production in
the School of Nursing in theses from 2006 to 2013 and dissertations from 1991 to 2001. An
exploratory study of quantitative-qualitative approach was used and the data collection took place
on the basis of Platform Lattes. Data were analyzed through the Bardin content analysis. Thirteen
publications in theses and 23 dissertations were identified. The results show the commitment of the
teachers to the promotion of academic feminism, being fundamental the presence of these
professionals for the construction of reflective thinking and in the training of the students mainly in
courses mainly female. It can be concluded that the studies on gender initially obtained a timid
production, over the years increased this quantitative, which may indicate greater interest and / or
strengthening of GEM as a school study group.
Keywords: Feminism; Gender Identity; Nursing